Ela venceu a categoria “cachaça envelhecida” em 2004 e agora aguarda o reconhecimento em 2010
Um dos grandes problemas vividos pelos produtores brasileiros de cachaça é a associação do produto à caipirinha. Essa relação dificulta os contratos de exportação nos Estados Unidos, uma vez que a bebida só é reconhecida como produto indispensável para a produção da caipirinha. Porém, essa realidade está prestes a mudar.
De acordo com o proprietário do alambique que produz a Cachaça do Rei, Reinaldo Annicchino, apesar dos norte-americanos fazerem a associação, já foi provada a distinção das bebidas. “Para ser reconhecida nos Estados Unidos, a cachaça tinha que ser engarrafada com o selo de rum, porém a bebida possui substâncias bem diferentes. Agora, conseguimos provar essa diferença e vamos conseguir exportar com mais facilidade”, comenta confiante o empresário.
Toda essa comemoração advém dos valores pagos pela bebida fora do país. Com a possibilidade de instituição de um selo próprio, a cachaça passará a ser comprada por valor acima do que é pago no Brasil, onde não há diferenciação entre as cachaças industriais e as artesanais, sendo que estas últimas requerem um investimento maior. Para facilitar e agilizar os trâmites que envolvem a venda da cachaça, 16 proprietários de alambique, como Annicchino, fundaram uma Associação.
Um produto reconhecido mundialmente
Em 2004, foi realizado pela USP de São Carlos, interior do estado, o 1º Concurso da Cachaça durante o 5º Brazilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages. Na ocasião, a Cachaça do Rei recebeu medalha de ouro na categoria "cachaça envelhecida". O evento que se tornou bianual foi promovido pelo Instituto de Química da Universidade que avaliou quimicamente e sensorialmente as cachaças que participaram da competição. Annicchino conta que ficou muito contente com a premiação, afirmando que a receita para o sucesso são as barricas de carvalho que garantem um sabor diferenciado à bebida. “Foi uma experiência que fizemos em 1999 e que deu certo. Coloquei para envelhecer numa barrica de carvalho e notei que a cachaça tinha um gosto diferente, bom”, explica.
Os processos para a produção da cachaça pura e envelhecida são bastante diferentes. No caso da Cachaça do Rei premiada, ou seja, envelhecida, depois que a cana é moída, ela passa pelo processo de fermentação obtido por meio de um fermento caipira formado por fubá e farelo de arroz fresco. Segundo Annicchino, a escolha pelo fermento remete à regionalidade da bebida. “No fermento que fazemos não usamos nada artificial, tanto que a desinfecção [processo que acarreta motoleveduras velhas que não suportam a acidez do processo de fermentação]é feita com limão bugre”, ensina.
Em se tratando de uma cachaça artesanal, o processo de destilação é realizado em alambique e não em coluna. No caso da Cachaça envelhecida, todo esse processo demora dois anos, já que durante o primeiro ano de produção, a bebida é mantida em tonéis de carvalho que comportam até 200 litros de cachaça. Após esse período, a bebida é despejada em um outro tonel de carvalho que mantém até 7.000 litros de cachaça. A diferença entre os processos é que os tonéis maiores contém tampas de amburana, madeira responsável por ‘adoçar’ a bebida. Annicchino comenta que esse processo é necessário para que haja a troca gasosa entre as madeiras e a pinga. Apesar de ser um processo demorado, há cada dois anos o empresário engarrafa 10.000 unidades, já que os litros da cachaça envelhecida são supridos com 700 ml da bebida, número 10.000 vezes menor do que a capacidade do tonel de carvalho com tampa de amburana.
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