quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

VC NA GAZETA

A casa de quatro rodas


Embora muitas pessoas passem boa parte de seu tempo dentro de carros e façam deste ambiente uma espécie de “segunda casa”, onde se alimentam, falam ao telefone, ouvem música, assistem TV e realizam mais uma infinidade de atividades, carros são, na maioria das vezes, um acessório, meramente, de locomoção. Que servem para nos levar de um lugar a outro, em um curto espaço de tempo, sem exigir grande esforço físico. Ou seja, servem para facilitar a vida.

Mas, diferente destas utilidades comuns de um carro, um já desgastado Corcel azul, no ápice de seus mais de 30 anos de idade, perdeu sua função primária, trafegar, para servir, literalmente, de casa.

Para Sandro José da Silva, 43 anos, que mora sozinho e perdeu tudo para as enchentes, foi o que restou. “Meu barraco era pequenininho, de madeira. Foi encoberto pela água”.

Após a terceira e última enchente do mês de dezembro do ano passado, sua casa, que fica na Vila Balan, foi condenada pela Defesa Civil. A frase, segundo ele, foi dura: “Você não pode mais voltar pra casa”, conta.

Tendo como única opção de “teto” o abrigo da prefeitura na escola Rosa Lembo, preferiu a rua. “Não fui dormir na escola. Tem muita bagunça lá dentro. Deus me livre.”

Segundo Sandro, ele dormiu algumas noites em frente à varanda de uma casa e ficou separado, apenas, por alguns metros, daquele que já foi um dia, seu maior bem, o “seu barraco”.

“Eu estava dormindo na rua. Aí, veio um amigo [vizinho] e me disse para ficar dormindo no carro dele [o Corcel]. Então, desde a última enchente de dezembro, estou dormindo dentro do carro. Eu não ligo, não”, disse.

Na terça-feira (19), após nova enchente, enquanto olhava para o cenário de destruição causado pela água, Sandro encontrou na memória, bons momentos que viveu naquele lugar tomado pela água. “Antigamente eu dava aula de capoeira para a criançada aqui do bairro. Dava faixa e tudo. Agora... não sobrou nada".

Sem saber para onde vai e o que será de seu futuro, uma triste lembrança toma conta de seus pensamentos. “Falaram [Defesa Civil] que a casa estava em risco. Eu gritei para o homem do trator, “Deus está vendo o que vocês estão fazendo”. A máquina só encostou e a casa foi para baixo. Foi a última vez que eu vi meu barraco em pé.”

Conheça as novas notas do Real

Divulgação Banco Central
Para saber mais veja matéria abaixo.

Banco Central lança novas cédulas do Real

Divulgação Banco Central
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, anunciou hoje (03), em entrevista coletiva a segunda família do Real. As primeiras cédulas a serem colocadas em circulação devem ser as de R$ 50,00 e R$ 100,00. As demais devem começar a circular no segundo semestre. Elas substituirão as cédulas que estiverem em más condições.


Brasília - O Conselho Monetário Nacional aprovou hoje, em reunião extraordinária, o lançamento da segunda família de cédulas do Real. A nova séria de notas entrará em circulação gradualmente até 2012, mas as notas em circulação continuação a valer até a substituição integral. Lançada em julho de 1994, a série de cédulas atual permaneceu praticamente inalterada por 15 anos.

Um novo design para o dinheiro brasileiro
O projeto das novas cédulas brasileiras vem sendo desenvolvido desde 2003 pelo Banco Central em conjunto com a Casa da Moeda do Brasil – CMB, responsável pela produção do dinheiro. As novas cédulas do Real atenderão a uma demanda dos deficientes visuais, que até então enfrentavam dificuldade em reconhecer os valores das notas. Com tamanhos diferenciados e marcas táteis em relevo aprimoradas em relação às atuais, a nova família de cédulas facilitará a vida dessa importante parcela da população. Dotadas de recursos gráficos mais sofisticados, as notas ficarão mais protegidas contra as falsificações.

A temática da atual família – efígie da República nos anversos e animais da fauna brasileira nos reversos – será mantida, porém os elementos gráficos foram redesenhados, de forma a agregar segurança e facilitar a verificação da autenticidade pela população. A nova família vai manter a diferenciação por cores predominantes, aspecto que facilita a rápida identificação dos valores nas transações cotidianas, inclusive por pessoas com visão subnormal.

As primeiras cédulas a serem lançadas serão as de R$ 100 e de R$ 50, que demandam maior segurança contra falsificações por serem os valores mais elevados em circulação. A substituição do meio circulante será feita aos poucos, à medida que as cédulas atualmente em circulação forem retiradas em decorrência do desgaste natural. No primeiro semestre de 2011, serão lançadas mais duas denominações – R$ 20 e R$ 10 –, devendo toda a nova família estar em circulação em um período de dois anos.

Tecnologia de ponta

Para produzir as novas cédulas com os recursos gráficos e novos elementos de segurança especificados no projeto, a Casa da Moeda do Brasil (CMB) modernizou seu parque fabril. Para tanto, a empresa obteve em 2008 o aporte de recursos necessário para a aquisição de equipamentos de última geração na área de impressão de segurança. As novas máquinas se encontram em processo de instalação e testes, devendo estar prontas para a produção ainda durante o primeiro semestre de 2010. Com as aquisições, a CMB se equipara às empresas mais modernas do mundo no ramo da impressão de segurança, e se torna apta a oferecer seus serviços a outros países, como já ocorreu no passado.





Com AI Banco Central do Brasil

Donativos encaminhados ao abrigo Aldo Silveira são vendidos


Os abrigados na escola municipal questionam a fiscalização e o controle de distribuição de doações


Marmita a R$ 1,00, cesta básica a R$ 5,00. Este é o custo das doações encaminhadas aos desabrigados da região do Moreto em Capivari. Segundo os que estão abrigados na escola municipal Aldo Silveira, até a semana passada, as marmitas eram entregues do lado de fora da escola, sendo que o cadastramento podia ser feito no mesmo instante. O mesmo acontece com as cestas básicas que são comercializadas por alguns que não sofreram com as enchentes.

Segundo a abrigada Eliana Cristina Ferreira, a informação recebida é que devem liberar as cestas para não estragar.

O ex-abrigado Emilio Leite de Campos, que voltou para casa ontem (29), afirma que muita gente que não precisava da cesta básica ia até a escola e pegava. “Muitas vezes, pessoas que nem estavam “dentro d’água” pegaram e as que realmente precisavam, ficaram sem”.
A informação é confirmada por voluntários, que preferiram não se identificar por receio de não serem contemplados com casas populares. Segundo eles, o sistema era mais rigoroso no início do ano, porém nas últimas semanas está deixando a desejar. “Tem pessoa que tem cadastro e já pegou 5, 6 cestas”, comenta *João.

Outro voluntário ponderou que pessoas que não sofreram com as enchentes também são beneficiadas com as doações. “Tem gente que nem pegou água na casa e pega cesta. Virou um comércio, por agora todo mundo recebe no grito”.

Este mesmo voluntário afirmou que muitos dos que ganham cestas se recusam a receber algumas marcas de produtos. “Estes dias, vi uma pessoa trocando a cesta porque não gostava da marca de café”.

Os que precisam
Mãe de seis filhos, a moradora do Moreto, que também preferiu não se identificar por medo de represália, afirmou que só consegue pegar, “com muito custo, uma cesta há cada 15 dias. Mas teve gente que pegou uma cesta e vendeu para comprar a passagem para voltar para o Nordeste, já que acabou a safra”.

Essa moradora comenta que vê todos os dias vários donativos serem encaminhados à casas que não precisam, como também serem vendidos. “Tem de tudo. Tem filho de comerciante, que não precisa e pega, tem gente que leva a cesta para casa e volta para comer marmita, tem gente que deixa a família em casa e fica no abrigo para levar doações. Tem de tudo”.

Uma moradora da área central da cidade que teve a residência atingida pela enchente, mas não ficou desabrigada, comenta que há 20 dias pediu material de limpeza no ginásio de esportes, assinou um papel no local, sendo informada que o que havia pedido chegaria na mesma semana e até hoje não recebeu nada. “Eu não fui atrás de alimento, nem roupa, só precisava de material de limpeza para arrumar minha casa, e nem isso eu tive”.

Segundo a assessoria de imprensa, todas as famílias atingidas pela enchente devem procurar o abrigo que atende a regional do bairro atingido e contar à assistente social o que foi perdido com as enchentes, sendo que as profissionais são encontradas nestes locais das 8h às 17h, durante a semana.

Má fé
As queixas de má fé na problemática pós-enchentes capivariana não se limitam aos abrigos da cidade. Segundo uma voluntária da Central de Doações da prefeitura, existe muito desvio de donativos realizados pelos próprios voluntários que ajudam a recepcionar e separar as doações. Ela lembra que muitos voluntários atuam com determinação, visando apenas a caridade, entretanto, existem àqueles que querem se beneficiar da situação. “Muitos produtos são escondidos, os de melhor qualidade, como doces, bolachas, ketchup, panetone, salsicha, hambúrguer”.

Segundo ela, essa escolha também se dá com as roupas e calçados, tanto que algumas sacolas que continuam produtos novos sumiram dos locais de arrecadação. “Durante o trabalho voluntário, algumas sacolas foram montadas com destino às casas dos que trabalham para ajudar os desabrigados”.

Organização e atenção
Para os abrigados, toda a problemática é gerada pela falta de organização e fiscalização das doações, como também a atenção dos funcionários.

*João comenta que antes era freqüente as visitas de assistentes sociais e profissionais da vigilância sanitária, sendo que estes passavam as informações para os abrigados, o que não acontece mais. “Tinha mais informações, mais funcionários dedicados, agora parece que eles estão fazendo por obrigação”.

O que mais incomoda Campos é a organização da distribuição de donativos. Para ele, uma maior fiscalização resolveria o problema. “Não sei que tipo de cadastro eles [prefeitura] fizeram, porque qualquer um chegava lá com identidade e comprovante de endereço e recebia. Para fazer uma coisa você tem que conhecer. Tem que saber onde a pessoa mora. Se realmente foi atingida e precisa de ajuda. Era só chegar lá com a identidade e com comprovante de residência que pegava.”

A revolta do morador do Moreto se deve à comercialização das doações. “Muita gente que não estava na escola pegava marmitex e trocava por pinga em boteco.”De acordo com a assessoria de imprensa, cada família de quatro pessoas tem o direito de receber uma cesta básica há cada 15 dias. Com relação às vendas dos donativos, a secretária de Desenvolvimento Social, Sueli Batagin, não entende como responsabilidade da prefeitura a comercialização, uma vez que os profissionais do Poder Executivo que foram destinados a trabalhar no abrigo acreditam no que as pessoas afirmam.