Dois anos de pesquisa na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da Universidade de São Paulo (USP) resultaram em um produto que promete ser mais eficaz para a saúde bucal das crianças. A equipe coordenada pela professora Marília Buzalaf desenvolveu um creme dental com baixa concentração de flúor e mais ácido, que, além de ajudar na prevenção das cáries, evita a fluorose; doença causada pela utilização excessiva do mineral natural. A novidade já foi patenteada e pode chegar ao mercado ainda nesse ano.
A fluorose é a ocorrência de manchas nos dentes causadas pela elevada ingestão de flúor durante o processo de formação da dentição (entre 1 e 7 anos de idade). A grande quantidade de flúor ingerida pode ocasionar a intoxicação nas células que produzem o esmalte e levar à fluorose.
“A manifestação clínica se dá com manchas esbranquiçadas na superfície dos dentes. Nas formas mais severas, podem ocorrer fraturas com a perda de pedaços dos dentes que adquirem uma pigmentação amarronzada”, esclarece Marília, que é bolsista em produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT).
Como o flúor é considerado um importante aliado no combate às cáries, o desafio para os pesquisadores foi encontrar um meio termo. Um produto que pudesse prevenir a cárie e, ao mesmo tempo, a fluorose. De acordo com a professora, uma das possibilidades avaliadas foi reduzir a quantidade de pasta usada pelas crianças na escovação. “Mas essa estratégia seria de difícil aplicação, pois seria necessária a supervisão de um adulto em todas as escovações, o que nem sempre é possível”, sustenta.
O caminho encontrado foi desenvolver um creme com teor reduzido de flúor. Nos produtos convencionais, esse teor é de 1000 a 1500 miligramas por quilo de pasta. A primeira proposta dos pesquisadores tinha 500 mg/kg de flúor. Medida avaliada como arriscada pela possibilidade de comprometer a eficácia contra a cárie. A opção para alcançar o equilíbrio foi adotar um Ph mais ácido, de 4,5, enquanto o Ph (grau de acidez) da fórmula das pastas convencionais é 7 (neutro). “Com essa redução, conseguimos fazer com que o flúor reaja mais com o dente e no estudo clínico foi possível observar que teve a mesma eficácia que o dentifrício convencional”, relata Marília.
Os testes foram realizados, por 20 meses, com 1400 crianças da rede pública municipal de ensino da cidade de São José dos Campos, do interior de São Paulo. O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e conduzido pelo pesquisador Fabiano Vilhena, doutor em Biologia Oral pela FOB, com colaboração de Alberto Carlos Botazzo Delbem, professor associado de Odontopediatria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araçatuba (SP).
Avanços
De acordo com a professora, a fórmula do dentifrício foi patenteada por meio da Agência USP de Inovação. “A Universidade busca licenciar o produto para colocar no mercado ainda nesse ano. Algumas empresas já mostraram interesse”, afirma. Agora os pesquisadores pretendem testar o produto em outras regiões do País que não tenham fluoretação da água, como é o caso de São José dos Campos. Os novos estudos serão feitos na Paraíba em localidade onde não se adiciona flúor na água.
A descoberta mereceu destaque na Olimpíada USP de Inovação em 2008, competição voltada para pesquisadores da instituição. O produto foi classificado como um dos finalistas do Prêmio Saúde em novembro último, oferecido pela Editora Abril por meio da Revista Saúde.
AI Min. Ciência e Tecnologia