Alcoólicos Anônimos (AA) consegue, por meio de reuniões de grupo, conscientizar alcoólatras sobre a possibilidade de deixar o hábito da bebida
Os relatos, em sua maioria, são muito semelhantes. Todos os 14 assistentes do AA de Capivari são unânimes ao afirmar: ‘estava acabando com minha vida, da minha família e não conseguia parar de beber. Foi aí que procurei ajuda. Cheguei no fundo do poço’.
O que num primeiro momento parecia era um hábito socialmente aceitável, tornou-se o maior dos problemas desses membros e suas respectivas famílias. Lares destruídos, perdas de bens materiais, e o principal dano: o emocional. Afinal de contas, viver sabendo que não consegue se lidar de um vício não é uma tarefa fácil. Por isso, o apoio da sociedade e principalmente da família é imprescindível, entretanto são poucos os que se dispõem a contribuir.
Os traumas familiares, o esteriótipo social dificulta a agilidade do tratamento. Mas a união entre os membros ameniza o entrave e já gera belos frutos. Em Capivari, nestes 27 anos de história, o AA já conseguiu resgatar muitas pessoas que se viam perdidas frente à dura realidade. “Dificilmente um bêbado não briga em casa. Se você analisar, o bêbado é pior dos que não tem família, porque eles não ligam para a família”, explica um alcoólatra.
Através de três reuniões semanais, os prestadores de serviço do AA compartilham suas histórias, sendo que ao conclui-las mencionam: “uma boa 24h para todos”, demonstrando a importância do pequeno luminoso que fica logo a frente da sala, piscando a todo instante: ‘evite o 1º gole’. Com o passar do tempo, os membros da entidade percebem que o importante é se respeitar e gostar de si mesmo. “Eu aprendi a gostar de mim”, pondera um dos prestadores de serviço.
As justificativas que levaram essas pessoas a voltarem-se ao vício também são similares. Uns afirmam que é para cumprir a definição de homem, instituída por uma sociedade machista, outros para se livrar dos problemas, e ainda existem aqueles que sem perspectiva de vida voltaram-se ao vício como fuga. Depressão, angústia, raiva, estão entre os sentimentos mais comuns vivenciados diariamente pelos alcoólatras. “É um ciclo vicioso: bebo para viver e vivo para beber. Bebo para resolver meus problemas e crio mais problemas ainda”, define um dos membros da entidade capivariana.
Apesar do AA ter como meta extinguir o vicio do álcool, não existe nenhuma imposição aos membros para que deixem de beber. A decisão é individual. “A ideia é que cada um decida por si mesmo se o álcool se tornou um problema em sua vida e decida parar”, esclarece o membro que coordenou a reunião do dia.
A psicologia explica
O pai da psicanálise, Sigmund Freud, instituiu a teoria da psique respaldada na importância do diálogo na resolução dos problemas emocionais. "A ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranqüilizador tão eficaz como o são umas poucas palavras bondosas”, afirmou Freud. E é isso que o AA implanta há quase 80 anos em todo o mundo: o tratamento por meio do compartilhamento de experiências, crendo que assim, os alcoólatras, - que afirmam que sempre se definirão assim uma vez que o alcoolismo não tem cura, - obtenham mais força e determinação para lidar com a doença.
Todos definem-se como alcoólatras em recuperação, afirmando que essa não é uma situação confortável, já que o preconceito social inibe muito a iniciativa dos doentes. Inclusive, essa é uma das principais tristezas desse grupo que só gostaria de ser respeitado e ajudado, sendo que na maioria das vezes, só se deparam com o desprezo das pessoas. Vale ponderar que a falta de apoio familiar é o que mais os machuca, segundo os próprios membros, afinal de contas todos pensam em reconstruir suas vidas, começando pelo alicerce do homem: a família.
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