João Campos- Da Secretaria de Comunicação da UnB
Esta segunda-feira, 9 de novembro, marca os 20 anos da queda do Muro de Berlim. O fim da barreira que por 28 anos dividiu a Alemanha em Ocidental (comandada pelos aliados que derrotaram o nazismo na Segunda Guerra, como os EUA) e Oriental (onde dirigentes da União Soviética buscavam implantar o comunismo) ainda hoje repercute nas questões políticas, econômicas e sociais do mundo. Especialistas da Universidade de Brasília afirmam que, apesar de a queda ser o maior símbolo da liberdade e da democracia na segunda metade do século XX, ela não representou o fim das ideologias.
A antropóloga Bárbara Freitag estudou em Berlim de 1961 - ano em que o muro foi erguido na calada da noite pelos soviéticos - a 1971. Durante o período, a professora aposentada da UnB viveu na pele a experiência de morar no país dividido por muro cercado por redes eletrificadas e vigiado por militares do Exército Vermelho e cães raivosos. “Era terrível ver pessoas cerceadas no seu direito de ir e vir, de se expressar. A rigidez autoritária do modelo soviético fazia com que nos sentíssemos em uma ilha”, lembrou ela, que nasceu em Berlim, onde morou na parte Ocidental.
Freitag lembra do alívio das pessoas ao cruzar os escombros do muro. “Havia uma insatisfação generalizada com a falta de liberdade, que levou as camadas populares a se rebelarem em nome da libertação”, contou ela, que chegou em Berlim cinco dias após a queda. Ela ressalta que a reunificação alemã representou a derrocada do socialismo mundial. “Berlim Oriental era o principal símbolo da resistência. Logo depois, a China comunista abriu suas relações comerciais ao capitalismo”, apontou. “A principal lição dessa história é que não adianta cercar o homem: ele vai se libertar”, completou.
ONGs - A professora do Instituto de Ciência Políticas (Ipol), Mariza Von Bulow, destaca a explosão no número de organizações sociais após a queda do muro. “O fim da Guerra Fria abriu as portas para o diálogo entre camadas que não tinham espaço para se expressar”, afirmou. “O espaço para colocar idéias em debate, fato impensável na parte Oriental de Berlim, por exemplo, representou o fortalecimento de grupos da sociedade civil nas lutas por seus direitos”, completou a especialista que, em 1989, ano da queda, acompanhou os debates sobre o tema como aluna de Relações Internacionais da UnB.
Mariza afirma que, apesar da prevalência do neoliberalismo sobre a política comunista, os embates ideológicos continuam mesmo duas décadas depois da queda do muro de 162 km de extensão. “Um mundo sem divergência seria ruim. A diferença é que os muros de hoje são saudáveis, pois permitem o trânsito tanto físico quanto de pensamento”, comentou ela. Para Bárbara Freitag, sobram motivos para comemorar o 9 de novembro. “Foi um símbolo mundial da ânsia e da conquista do homem pela liberdade”, disse ela, que acompanhou lento processo de reconstrução de Berlim.
Professor de Departamento de História, Estevão Martins traça um paralelo entre o período vivido pelos alemães de 1961 a 1989 e a ditadura militar brasileira, entre 1964 e 1985. “Assim como na Europa, também tivemos 'muros' sociais e políticos erguidos no Brasil. A queda de ambas as barreiras frente ao bom senso político, à prática da democracia e à construção coletiva do bem-estar foi uma feliz coincidência entre os países”, comentou ele, ressaltando a promulgação da Constituição Federal de 1988 e as primeiras eleições presidenciais após a ditadura.
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